Mochila Rasgada
1973 - 197
Dedo de prosa
o espelho
reflete o rosto
passado presente
sentidos, miragens
distâncias na mente
sementes, imagens
o que se escreve reflete o que amamos
reflete
o espelho
1973
meu sonho
é ir embora
com a cabeça forrada
correr mundo afora
a mochila rasgada
corpos floridos molhados
meu sonho
é ir embora
com minhocas na cabeça
1974
passarinhos
fizeram
ninhos
nos
meus cabelos
da
janela
flores
vejo
cores,
marcas
nascem
moscas
do
sangue
levam,
cupins
invadem
a madeira
a
terra batida
a
lambidas
1974
setas
riscam o céu
prata ilumina
a noite
de inverno
passos tortos
redemoinhos
passeiam, brincam
riscam o céu
prata ilumina
a noite
de inverno
passos tortos
redemoinhos
passeiam, brincam
preocupações
dissipadas
transformam
em lares
as
esquinas
o
vento laranja nos leva
de
repente um farol
fixa
minha vista
1974
vida e sonho
vida e sonho
passos
lentos
sobre
folhas
sob
as
árvores
altas
o
amor
o
sofrimento, o confundir-se
amor
e sofrimento
lágrimas
lentas
pelas
faces
lentas
1975
o
sangue escorre
o
corpo novo
lágrima
brilha
coração
e desce
já
some a rima
nasce
palavra
nova
1975
manhã
de vidro
o
sol dourado
menino
vai
buscar
a noite
as
aves voam
toda
uma vida
1975
quem
é você
que
não conheço,
estranho
à minha porta,
dentro
de minha casa,
deitado
em minha cama?
quem
é você
que
se despe à minha presença
e
me espanta a nudez
e
me beija
quando
encontra meus olhos
dentro
do espelho?
1975
ausente
eu digo,
te encontro
amigo,
num verso
antigo
1976
Você me vê aqui
sem te encontrar
e à mim também
mas sabemos
que lá dentro
nada existe
sem os corpos.
São unidos
separados
– são os corpos –
1976
construirei
de minha alma
uma érmida
e encerrarei
dentro dela
a palavra
onde o trabalho
é bem visível
a olhos cegos
e as mãos
são calejadas
e carinhosas
1976
como coube
a música
à paisagem?!
se ajustaram
verdes, vivos
homens, plantas,
como a água
a mão
que trabalhou
a água
1976
corro
atrás
de
azuis borboletas
cores
abertas
noites
de estrelas
cardumes
de grilos
matas
de ferro
campo
florido
de plástico
1974
1974
gritos
mãos
se
levantam
olhos
manhãs
que se fecham
flores
murmuram
sangue
derrama
tanta
solidão
que envolve
1976
lua
chama
fora
olhos
lua
pede
companhia
homens
mulheres
flagelos
meninos
as
almas cansadas
1976
canções
de infância
brinquedo
atrás
de bola
e
passarinho
suor
na testa
noites
de festa
luar
de asas
gato
de botas
1976
noturno
cão
vadio
música
espanhola
a
lua barca
abarca
os mares
no
céu singrando
e
o caminhante
solitário
amante
à
noite
nos
bares
1976
quero encontrar
aquelas mãos antigas
e trabalhar teu corpo
com urtigas
1977
Poemas de Cláudio Rodrigues
Poemas de Cláudio Rodrigues
Fui desfazendo os fios, desconstruindo a meada e me abismei.
ResponderExcluirTeci tapetes invisíveis na alma com estes poemas.