A caça



A caça

Homem caçando
Homem matando o animal
Homem abrindo o peito do animal
O coração do animal
e o come lambendo os lábios
Lambuza-se com o sangue
Ele todo sangue
Espantado com ele mesmo
Em êxtase com o próprio espanto, em pânico, delira
E morde o coração que agora é seu
Banhado de sangue como se fosse o cordeiro
O coração morno que mastiga enquanto canta uma desculpa e um elogio ao animal morto
Pedindo ao deus do bicho, que o proteja, e seja ele mesmo em oração, o pedido perdão,
de coração a coração

Cláudio Rodrigues


todo retrato é um auto-retrato


todo retrato é um auto-retrato
Marcelo Scarvone,fotógrafo-retratista


toda paisagem é um retrato
todo retrato diz
a paisagem de um corpo
a sombra de um sonho

tudo auto-retrata e povoa
o deserto interior

a alma é um espaço
o tempo
o vento o empurra

Não posso evitar

Não posso evitar a nudez desse rio
 
Hoje já é segunda-feira – descontinuidade, ano do cavalo

Eis-me aqui, a mergulhar no vazio – assim seu corpo cheio de graça. Quando se acaricia essa moça, uma doce princesa – venho ao amor como na vida eterna. A porta fechada dos sentidos, sentir-se, como uma formiga que se arrasta. E – então no início do sexo, a tensão do fogo se contém na fonte. Não posso evitar a nudez desse rio. Resvala em meu rosto suave arrepio e no fim, pequenas brasas. Quando abraço sentimentos como folhas tremem - celebrar também mesmo sem abraços - recordando conversas...

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