1980 - 1983







não sei o que sinto
quero dizer tanto
não sei o que sou
um rio e isso eu sei
um nada, sei também
e isso é tudo
mas há em mim
um sim que não tem fim.

o dia acaba aqui
com a palavra
as ruas cheias de carros
pessoas que voltam
deuses anônimos
bailarinos, amantes
rios de sangue.

poemas



1980 - 1983



queimem meus papéis
limpem minhas gavetas
joguem fora o que guardei com ansiedade e não foi meu
deixem as lembranças do que fui eu
e esqueçam cada parte minha
a arte minha
limite meu








espero que não me venham mais
os demônios da memória
e não me mostrem mais
a árvore e a colina

não quero esse campo
além do canto
que ouço ao vento
não me venham mais
(Barbacena)

Poemas 1980/83



ao meu pai

tranquilamente ia indo
e não buscava nada
apenas caminhos
entre campos e quintais
de algumas chácaras

no fundo o córrego
livre entre pedras,
ininterrupto, incontrolável
tirava a roupa
e penetrava na água
sensualidade, carícia
satisfação, respiração parada
ao fundo um segundo
ver tudo verde
visão de cascalho
pé de moleque



.

.